sexta-feira, 8 de março de 2013

OSVALDO NUNES - SINGLES & RARIDADES


01 - Eu chorei (1968)
..... (osvaldo Nunes)
02 - Tá chegando mulher (1969)
..... (osvaldo Nunes - A. Santos)
03 - Segura este samba ogunhê (1968)
..... (osvaldo Nunes)
04 - Dendeca (1968)
..... (osvaldo Nunes)
05 - Tá tudo aí (1968)
..... (Celso Castro - osvaldo Nunes)
06 - Você deixa (1968)
..... (osvaldo Nunes)
07 - Mulher de malandro (1968)
..... (Celso Castro - osvaldo Nunes)
08 - Samba do trabalhador (1969)
..... (Darcy da Mangueira)
09 - Parece mandinga (1969)
..... (Candeia - osvaldo Nunes)
10 - Aquele abraço (1969)
..... (Gilberto Gil)
11 - Ê... ê... rapaziada (1969)
..... (osvaldo Nunes - Rutinaldo - Milton de Oliveira)
12 - Levanta a cabeça* (1969)
..... (osvaldo Nunes - Ivan Nascimento)
..... * Primeira colocada no 3º Concurso de Músicas do Carnaval
13 - Sonhei com você (1969)
..... (osvaldo Nunes - Cosme de Oliveira - Roberto Muniz)
14 - Fessôra (1969)
..... (Celso Castro - Denis Lobo - osvaldo Nunes)
15 - Nem só de pão vive o homem (1967)
..... (Paquito - Romeu Gentil - osvaldo Nunes)
16 - Voltei (1967)
..... (osvaldo Nunes - Celso Castro)
17 - Espírito de porco (1967)
..... (osvaldo Nunes - Edson Mello)
18 - Tempos de criança (1967)
..... (osvaldo Nunes - Jonas Garret)
19 - Saberás (1970)
..... (osvaldo Nunes - J. Aragão - R. Gerardi)
20 - Vai (1970)
..... (osvaldo Nunes)
21 - Andou... andou (1971)
..... (Milton de Oliveira - osvaldo Nunes)
22 - Samba do piau (1971)
..... (Tito Mendes - osvaldo Nunes - Carlos J. Silva)
23 - Mudança do vento (1975)
..... (Agepê - Canário)
24 - Vamos em frente (1975)
..... (osvaldo Nunes - Ary Junior)
25 - Ai, que vontade (1977)
..... (Beto Sem Braço - Dão)
26 - Dendê na Portela (1977)
..... (Hilton Veneno - osvaldo Nunes)
27 - Vou tomar um porre (1978)
..... (Paulinho da Mocidade - Jurandir Bringela)
28 - Tim tim tim ô lê lê (1978)
..... (Zé Pretinho da Bahia - osvaldo Nunes).

 Osvaldo Nunes

Biografia

Osvaldo Nunes - singelo tributo a um artista popularíssimo vitimado pela homofobia
 Ontem ouvi o segundo programa apresentado na rádio Roquete Pinto por Sérgio Cabral (pai) em homenagem ao Bloco Carnavalesco Bafo da Onça

- Delícia, como dizem os mais novos.

Pude recordar sambas de enorme popularidade, que atravessaram anos acompanhando gerações com alegria, irreverência e apelo sensual (de uma forma, digamos, menos explícita/rude que a atualmente vigente); conhecer parte da história (não tive a alegria de ouvir o primeiro programa) de um bloco que gozou de enorme popularidade - juntamente com o Cacique de Ramos e o Cordão da Bola Preta, naquele universo anterior às bandas; conhecer artistas e canções que não havia ainda tido acesso e, sobretudo, matar as saudades de um cantor e compositor popular, cuja forma de interpretar era peculiaríssima pelo "incremento" que inseria em paralelo à letra - como uma "assinatura" ao texto. Inesquecível tambem a sua alegria e irreverência.

Estou falando de Osvaldo Nunes.Um negro que não era bonito ou "bem apessoado", segundo o padrão hegemônico, mas dotado de um carisma invejável. Impossível ouvir suas interpretações e depois esquecê-lo. Eu, como tantas pessoas de minha geração e das anteriores, embora nunca tivesse sido apaixonada por samba e seu universo, tinha enorme simpatia por esse artista de estilo peculiar.



Dentre tantas canções que se tornaram sucesso em sua interpretação, é possível destacar algumas, ciente de que o desejo seria trazê-las quase todas.

É preciso frisar que ele era o autor da maioria delas.

Oba, de 1962, acabou virando o hino do Bloco

"Nessa onda que eu vou / nessa onda ia ia / é o Bafo da Onça / que acabou de chegar / Olha a rapaziada / Oba / vem dizendo no pé / Oba / As cabrochas gingando / e como tem mulher / todo mundo presente / olha a empolgação / Esse é o Bafo da Onça /que eu trago guardado no meu coração / é o bom, é o bom, é o bom"

Segura este samba Ogunhê, de 1969
"Segura este samba, não deixa cair / O samba é duro e estou aí / Ogunhê, ogunhê / Oi, segura este samba, não deixa cair /  O samba é duro e estou aí / Ogunhê, ogunhê // ... // E diz no pé, sapateia crioulo / bamboleia as cadeiras, mulata / diz no pé, sapateia crioulo / bamboleia as cadeiras, mulata //..."

Deixa meu cabelo em paz
"Até lá na escola já não posso estudar /  Com meu cabelo grande o diretor não deixa entrar / Deixa meu cabelo em paz , seu diretor / deixa meu cabelo em paz / / O pai  da garota já não quer que eu namore mais / O motivo é o meu cabelo que está grande demais / Deixa meu cabelo... 2 x  / Não corto meu cabelo de jeito nenhum vou cortar / Sou jovem, avançado estou na onda o que é que há / ..."

Eu chorei
"Se eu chorei, o problema foi meu /  se fiquei triste / tive minhas razões / Não vou reclamar /

Na onda do berimbau.
"Na onda do berimbau / Esquim dim dim / Esquin dim dim / Agitarei o carnaval / Esquim dim dim / Esquim dim dim / bate com a mão / que eu bato com o pé / Este samba virou candomblé"

A marca de um modo de ser  leve, irreverente e, em certo sentido, ingênuo - embora tenham sido igualmente tempos terríveis, na medida em que tinham por trás o cenário do regime ditatorial, com seu autoritarismo e arrogância característicos, muita perseguição ideológica, tortura e morte não somente àqueles que buscavam resistir ao regime, lutando por um país melhor, mas a qualquer indivíduo que ousasse não dissimular suas opiniões críticas a respeito da situação do país, bem como a qualquer um que tivesse a desventura de vir a ser classificado pelos  fiscais voluntários do regime como alguem esquisito, diferente, perigoso.

Recordo o impacto que me produziu a notícia de seu bárbaro assassinato, perpetrado no interior de seu apartamento, na Lapa dos anos 1991, segundo sensacionalisticamente noticiado à época, por um michê.

Recordo, igualmente, o modo preconceituoso de veiculação da notícia, como usual àquela época, sempre atribuindo à vítima a "culpa" pelo seu martírio - semelhantemente às condenações das mulheres estupradas e assassinadas pelos ex-maridos e namorados. 

Lembro que ainda há poucos anos atrás ouvi de um veterano apresentador de programa radiofônico, vinculado a emissora tradicional na cultura carioca e brasileira, referir-se ao seu assassinato ainda naquele mesmo registro da  noção da "retribuição merecida".

Sérgio Cabral, nesse segundo programa homenageando o Bafo da Onça irradiou diversas canções gravadas por Osvaldo Nunes, elogiando de passagem, suas características originais de interpretação.

Cabral conheceu o artista antes de seu reconhecimento e popularidade. Nas palavras de Sérgio, quando o conheceu, ele ainda era o "Vavá"; depois, foi se tornando cada vez mais Osvaldo. Não ficou muito claro o sentido atribuído à frase. Eu, pessoalmente, preferi imaginar quisesse se referir a um modo mais informal, não profissional. Mas confesso desconfiar que não estou bem certa.

- Nenhuma referência, contudo, fez Cabral a respeito de seu falecimento. Aliás, as referências às personalidades com práticas homossexuais em nosso país oscilam entre o completo silenciamento acerca de sua orientação sexual ou culpabilização da vítima.

Retratações positivas de suas trajetórias, focalizando sem pejo talento, criatividade, personalidade e "homossexualidade" apenas muito recentemente se vem construindo o hábito de fazê-las - como de resto são feitas as de pessoas com práticas heterossexuais.

Do que encontrei na internet sobre a sua biografia, há referência que teria nascido em fins da década de 1940, assim como uma outra, do sítio Memória da MPB, apontando seu nascimento no Rio de Janeiro, em 1930.

Órfão ou desconhecendo os pais, passou a infância por instituições asilares, de onde fugiu com aproximadamente treze anos, passando a viver nas ruas, onde foi "baleiro, engraxate e camelô, além de artista ambulante", segundo uns e envolvido na marginalidade, segundo outros.

O contato com a marginalidade, durante a maior parte de sua adolescência, lhe possibilitou a aproximação com o mundo do samba e dos blocos fazendo aflorar seu talento e originalidade.

Era parte de seu estilo integrar roupas, palavras e adereços da cultura das religiões afrobrasileiras, assim como a esfuziante alegria que exibia em suas interpretações.

O registro constante do Memória da MPB,  traz boas informações sobre sua trajetória e produção artística, mencionando, inclusive os prêmios que conquistou.

Teria gravado um total de apenas quatro discos long plays, o primeiro datado de 1962. Há tambem referências a um compacto, de 1961, cujos nomes das músicas ainda não consegui localizar.
• Ôba! (1962)
• Tá tudo aí! (1969), com The Pop's
• Você me chamou (1971)
• Ai, que vontade (1978)
• Aquele abraço – O melhor de Oswaldo Nunes (coletânea)

Também do mesmo sítio é a informação de que "onze anos depois [de sua morte], a Justiça deu a sentença do espólio do cantor.Em testamento, o sambista deixou um apartamento e todos os seus direitos autorais para o Retiro dos Artistas, no Rio".   
- Gesto que não vemos ser praticado pela grande maioria das pessoas com práticas homossexuais no Brasil (ao contrário dos nacionais de países como os EUA), mesmo entre aquelas portadoras de maior escolaridade, informação cultural, consciência política.

Na opinião de Madame Satã, Osvaldo Nunes não era bem o que ele chamaria de um malandro bom de briga. Segundo nosso venerando malando, aquilo ele fazia não era briga, mas escândalo.

É que havia muita rivalidade entre os blocos Cacique de Ramos e Bafo de Onça. Rivalidade que não raro chegava às vias de fato:
 
O Bafo da Onça era comandado por Osvaldo Nunes, cantor compositor, representante e defensor do samba da época. A rivalidade entre Bafo da Onça e Cacique de Ramos era tão grande que quando eles se encontravam na avenida, era sempre caso de polícia. As brigas reinavam em todos os sentidos. Por muitas vezes o Cacique chegava a atrasar o desfile por mais de 4 horas só para pegar o melhor horário e não permitir que o Bafo da Onça fizesse seu carnaval. Se algum componente viesse pela rua com a fantasia do Cacique e alguém do Bafo da Onça com sua fantasia, era melhor um dos dois atravessar a rua, caso contrário seria briga na certa e quem estivesse em desvantagem que arrumasse logo outros parceiros para, pelo menos, poder empatar a briga.

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